quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Zé Ramalho, Quem diria?

Sábado, Zé Rama­lho e Amelinha, no Ibirapuera. Só isso. Um anunciozinho mixo nos jornais, alguns humildes cartazes em preto-e-branco colados nos tapu­mes da cidade, nada de grandes comerciais de TV, nada de coloridos out-doors.

Sábado, Zé Ramalho e Amelinha, no Ibirapuera, arrastaram sessenta mil pes­soas ao pé do palco monta­do no gramado do Parque. A maioria absoluta, garotos e garotas de 16 a 20 anos, que chegavam aos magotes, vin­do de ônibus, de carro, de moto, de bicicleta, "de a pé". Sessenta mil pessoas, treze casos de histeria, dois feri­dos.

O show estava marcado para as cinco horas. Às duas o povo já começou a chegar. Quando os dois artistas sur­giram, a chamada massa humana se espremia toda, o empurra-empurra comprimia as filas da frente contra o pal­co. "Frevo Mulher! Frevo Mulher!", os pedidos vinham aos gritos. No intervalo de cada músi­ca, vinha o pedido do palco: "Calma! Este show foi feito para vocês ficarem numa boa. Desse jeito a gente vai ter de parar".

Em menos de meia hora de show, a primeira garota foi içada para o palco, histé­rica, semi-inconsciente. Zé Ramalho canta Admirá­vel Gado Novo. Num espaço de vinte minutos, mais 10 garotas saíram carregadas como a primeira. "Calma, calma!" Amelinha solta o seu Frevo Mulher.
 
O povo dança, mas a tensão não diminui, mais gente sobe para o palco, fugindo do sufoco. O frevo termina, Zé Ramalho e Amelinha vão para o fundo, onde ficam os camarins. As sessenta mil pessoas levam 15 minutos olhando para o palco vazio, até entender que o show acabou. 
 
Um show de pouco mais de meia hora. Suspenso "por falta de segu­rança" para as 60 mi! pes­soas. Foi sábado passado, Zé Ramalho e Amelinha cantan­do de graça no Parque do Ibirapuera, São Paulo. Ai, meu Delis, o que é que está acontecendo, com a música popular brasileira?
 
Semanal de música: "Canja" 6 a 12 de junho de 1980
Arquivo do Acervo.

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