sábado, 31 de março de 2012

O Admirável Mundo da Música: Zé, O Ramalho

Por Carolina Serra

Antes de começar esse post quero compartilhar um diálogo fático com vocês.

Visualizem estagiárias conversando num bandejão, ok?
Pois então, vamos lá:
"Sabem aquela música da novela, do primo da elba ramalho..."
"...admirável chip novo?"
"Ai, não viaja, o cd da pitty é admirável chip novo!"
"Não é admirável mundo novo, não?"
"Né não gente, admirável gado novo é o nome da música que fala sobre mecanismos massivos de alienação, faz uma referência a dialética marxista e tal. Né? Quê?...me passa o sal?"

O povo foge da ignorância,

Apesar de viver tão perto dela,

E sonham com melhores tempos idos,

Contemplam essa vida numa cela,

E esperam nova possibilidade

De verem esse mundo se acabar;

A Arca de Noé, o dirigível

Não voam nem se podem flutuar.

Admirável gado novo - Zé Ramalho


Bom, você já deve ter percebido que tanto o Cd da Pitty (Admirável chip novo), quando a música do Zé Ramalho (Admirável gado novo), foram "inspiradas" na obra de Aldous Huxley (Admirável mundo novo).

Publicado em 1932 "Admirável Mundo Novo" narra um hipotético futuro onde as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viverem em harmonia com as leis e regras sociais, dentro de uma sociedade organizada por castas. A sociedade desse "futuro" criado por Huxley não possui a ética religiosa e valores morais que regem a sociedade atual. Qualquer dúvida e insegurança dos cidadãos era dissipada com o consumo da droga sem efeitos colaterais aparentes chamada "soma".



E quem não conhece o álbum do Iron "Brand New World?" E os Strokes, com a música "Soma"...hein?

Nada é aleatório, e como dizia papai (amém!) "cabeça não é só pra usar boné". Parando um pouquinho a gente percebe que algumas das canções mais significativas (nacionais), são canções-protesto.

Peguemos a nossa tão estimada MPB. Nem é preciso esmiuçar tanto pra acharmos uma música, um ícone que traga à tona denúncias sociais, que critique instituições ou relate uma situação indigesta.

Escolhi alguns nomes que representam esse movimento contestatório na música popular brasileira, e resolvi dividir em 4 post's.

Tsc Tsc. Aposto que o primeiro nome que veio a cabeça foi Chico Burque, né. Vamos deixar Chico um pouquinho de lado...

Você viu no post ("A FILOSOFIA DE NOEL ROSA"), que a temática principal que permeava sua obra era o cotidiano e o começo da vida moderna num Rio do Janeiro da década de 30.

Hoje te convido a conhecer um pouco do Brasil setentista e do cunho político-social de Zé Ramalho.

Suas músicas sempre foram uma ode a sua vida; circulando entre suas principais experiências: contra-cultura, nordeste, reforma-agrária...
Paraíbano, José Ramalho Neto chegou a cursar medicina em João Pessoa, mas na conjuntura de um Brasil ditatorial é influênciado por nomes como Dylan e Beatles. Zé trilhou um caminho - que até então - não era lá conveniente: usar da contra-cultura como movimento de engrenagem.

Escrita em meados da década de 70 "Admirável Gado Novo", ainda mantém seu espírito contestatório; fruto de um período em que as relações sociais eram puramente verticais. Coincidência? Nem um pouco, a letra pode ser muito bem inserida nos dias atuais...


PANORAMA CULTURAL 70'
Certamente você já ouviu falar sobre a política de pão e circo...certo?

E o que rolava na década de 70 - que não é em nada diferente dos dias atuais - era essa politicagem de massa: controle da sociedade por meio de assistencialismos.

Um cala-te boa perfeito para exemplar o argumento é o tri-campeonato mundial de futebol. Ajudando a criar uma sociedade condicionada a não-pensar, cega ao senso-crítico. Um verdadeiro carnaval-federal à nação.

O periodo era chamado de "anos de chumbo", e o slogan - super meigo - do nosso Brasil Baronil era: "Brasil! Ame-o ou Deixe-o".

Lá nos EUA já haviam movimentos contestatórios que faziam da arte seu carro chefe para denunciar questões raciais, lutar pelos direitos civis e contra a guerra do Vietna.

A literatura e a música foram tomadas por um "grau de percepção", tanto pelos Beatniks quanto pelo ícone-mor da música folk60':Bob Dylan.

E - eis que pautado no ícone - "O Bob" do nordeste nos presenteia com a música que é um tapa na cara, não só da política nacional, mas como dos que fazem dela "uma morada tranquila", os conformistas.

A LETRA
A letra de "Admirável Mundo Novo" vai de encontro a realidade setentista vivida por Zé Ramalho e por muitos outros brasileiros, em uma época em que o país vivia seus "anos de chumbo".

A letra vem reforçar os pensamentos de Kark Marx.

A temática gira em torno dos mecanismos de produção do capistalismo "E ver que toda essa engrenagem/Já sente a ferrugem lhe comer".

Luta de classes, exploraçãodo homem pelo homem; A alienação das massas e a religião como ópio do povo - controlando a "doença - estado", com a suportável esperança do ópio é o que podemos conferir na canção de Zé:

Lá fora faz um tempo confortável

A vigilância cuida do normal

Os automóveis ouvem a notícia

Os homens a publicam no jornal...

E correm através da madrugada

A única velhice que chegou

Demoram-se na beira da estrada

E passam a contar o que sobrou
[...]

A Arca de Noé, o dirigível

Não voam nem se pode flutuar...

Admirável gado novo - Zé Ramalho



Nenhum comentário:

Postar um comentário