terça-feira, 13 de setembro de 2011

Zé Ramalho trilha a 'winding road' no passo nordestino ao cantar Beatles

A rigor, Zé Ramalho canta Beatles desde os anos 60, quando fez parte de bandas que animavam os bailes de sua Paraíba natal com o rock projetado naquela década de efervescência pop. Com capa charmosa que parodia a imagem do segundo álbum do grupo inglês, With the Beatles (1963), Zé Ramalho Canta Beatles é previsível acerto de contas com esse passado roqueiro.

Editado por Marcelo Fróes por seu selo Discobertas, o disco combina gravações feitas neste ano de 2011 com faixas registradas entre 1999 e 2000 para CD em tributo aos Beatles que acabou abortado por Ramalho. Em qualquer época, Zé canta Beatles como Zé Ramalho - tal como cantou Raul Seixas (1945 - 1989) e Bob Dylan em discos anteriores.

A sanfona ouvida no arranjo lento de If I Fell (John Lennon e Paul McCartney) delimita a origem nordestina do artista - tanto quanto o sotaque do inglês com que o trovador entoa temas como I Need You (George Harrison), canção revivida em compasso ternário em interpretação de tom dylanesco. Emoldurado por sanfonas e violas, pilotadas pro Zé e por Dodô de Moraes (diretor musical do disco), o Messias do sertão nordestino reprocessa temas como In my Life (John Lennon e Paul McCartney). Às vezes, a abordagem do cancioneiro dos Fab Four por Ramalho soa trivial, como em A Day in the Life (John Lennon e Paul McCartney), quase transformada num xote. Em contrapartida, há faixas em que o artista se permite ousadias estilísticas como a transmutação de Your Mother Should Know (John Lennon e Paul McCartney) num bolerão.

O d.n.a. do artista está impresso em todas as faixas. O clima épico da introdução de Dear Prudence (John Lennon e Paul McCartney) e o tom cavernoso do canto do artista em Carry the Weight (John Lennon e Paul McCartney) - emendada, como de praxe, com Golden Slumbers (John Lennon e Paul McCartney) - não deixa dúvidas de que Zé canta Beatles com total fidelidade ao seu universo musical. Opção reiterada pelo compasso agalopado de sua releitura de While My Guitar Gently Weeps (George Harrison). Mesmo quando diminui acertadamente o passo, como em The Long and Winding Road (John Lennon e Paul McCartney), Zé Ramalho trilha sem tropeços - mas também sem um brilho especial... - a estrada pop nordestina da qual foi um dos desbravadores na década de 70.

Fonte: Notas Musicais

Nenhum comentário:

Postar um comentário