terça-feira, 11 de maio de 2010

PERIGO IMINENTE ( Guerra atômica e sambão no som do nordeste )

Já na contracapa, o novo LP de Zé Ra­malho, "A Terceira Lâmina", mostra o sinistro cogumelo de uma bomba atô­mica em explosão. "E uma advertên­cia", explica o cantor e compositor parai­bano. Ele acredita que a III Guerra Mun­dial está por chegar, e teme que os testes nucleares da Usina de Angra dos Reis acabem com "O restinho de mato que tem no nordeste". E por isso mesmo que, na maioria das onze faixas do LP, Ramalho prossegue em sua obsessão cóm as imagens apocalípticas, com o non-sense bombástico presente em seus dois LPs anteriores. "Pode ser que nin­guém me compreenda", admite ele em "Canção Agalopada".

Suas imagens são confusas, fragmenta­das, mas ele as transmite com tanta deter­minação que acaba convencendo o ouvin­te de seu sentido poético. "Eu não sou um grande cantor", confessa. "Prefiro recitar as letras. Os poucos fios melódi­cos apenas conduzem minhas imagens."

Mas, por difícil que seja a assimilação de suas canções, "A Terceira Lâmina" se impõe como um produto original de um artista extremamente peculiar. E inte­ressante o modo como ele encarna, ao mesmo tempo, o cantador do sertão nor­destino e o visionário iconoclasta da cida­de. Sua música surpreende de maneira agradável, como, por exemplo, na faixa "Filhos de ícaro", quando .a voz de Zé Ramalho é acompanhada por cuíca, tam­borim e reco-reco. Um ótimo achado pa­ra uma canção mais adequada a violeiros que ao ritmo de uma bateria de escola de samba.

Artur Xexéo


Revista Veja 18 de Março de 1981

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